Dormiu das 3h20 às 5h50, levantou em cima da hora, vestiu uma blusa preta e saiu de qualquer jeito. Percebeu logo cedo que aquele ia ser um dia pra pensar.
Mas sentia-se mal. De dentro do ônibus observava a chuva diluir o retrato do mundo externo que se via pelas janelas, e pareceu-lhe que as formas se esvaíam lentamente e deixavam só o interior das pessoas à mostra, em todos os detalhes de suas terríveis deformidades.
Ao deixar aquele mar de gente e mochilas e sono e aparelhos de mp3 que é o transporte público de manhã, sentiu a garoa gelada na pele e nem se deu ao trabalho de tirar os óculos. Ao parar diante de um farol fechado para pedestres, reparou no barulho de uma velha porta de ferro sendo aberta atrás de si. Então aproveitou para entrar no bar e comprou um único cigarro - o primeiro de sua vida.
Enquanto atravessava a avenida, finalmente lhe ocorreu um pensamento: Mas já é quarta feira? O último banho que tomei foi no domingo, meu deus.
Seguiu caminhando por mais vinte e um minutos até o escritório onde trabalhava, e lá dentro cada segundo demorava um dia inteiro pra passar e deixar o caminho livre para o próximo minuto e para a próxima hora e o próximo mês e o ano seguinte e assim até que a Nova Era ficasse velha. A cada instante ela também piorava, e ao deixar o prédio ao final do dia, ninguém sabia quem era aquela velha vestida em farrapos manchados de sangue.
Mas finalmente chegou a noite e nos encontramos, na praça dos ipês atrás do terminal de ônibus. Ao vê-la aproximar-se com os cabelos esvoaçando, usando uma correntinha de prata que eu lhe dera e a mesma calça jeans de sempre, me perguntei como é possível que tanta gente veja só o lado ruim da vida. Quando chegou mais perto, andando com dificuldade por sobre as minúsculas flores amarelas caídas, era uma princesa caminhando por uma estrada de ouro.
Sorrimos uma para a outra, e pude notar que tremia de frio. Tirei meu sobretudo e a envolvi num abraço morno.
Palavras teriam sido inúteis; eu a amava incondicionalmente.
Mas sentia-se mal. De dentro do ônibus observava a chuva diluir o retrato do mundo externo que se via pelas janelas, e pareceu-lhe que as formas se esvaíam lentamente e deixavam só o interior das pessoas à mostra, em todos os detalhes de suas terríveis deformidades.
Ao deixar aquele mar de gente e mochilas e sono e aparelhos de mp3 que é o transporte público de manhã, sentiu a garoa gelada na pele e nem se deu ao trabalho de tirar os óculos. Ao parar diante de um farol fechado para pedestres, reparou no barulho de uma velha porta de ferro sendo aberta atrás de si. Então aproveitou para entrar no bar e comprou um único cigarro - o primeiro de sua vida.
Enquanto atravessava a avenida, finalmente lhe ocorreu um pensamento: Mas já é quarta feira? O último banho que tomei foi no domingo, meu deus.
Seguiu caminhando por mais vinte e um minutos até o escritório onde trabalhava, e lá dentro cada segundo demorava um dia inteiro pra passar e deixar o caminho livre para o próximo minuto e para a próxima hora e o próximo mês e o ano seguinte e assim até que a Nova Era ficasse velha. A cada instante ela também piorava, e ao deixar o prédio ao final do dia, ninguém sabia quem era aquela velha vestida em farrapos manchados de sangue.
Mas finalmente chegou a noite e nos encontramos, na praça dos ipês atrás do terminal de ônibus. Ao vê-la aproximar-se com os cabelos esvoaçando, usando uma correntinha de prata que eu lhe dera e a mesma calça jeans de sempre, me perguntei como é possível que tanta gente veja só o lado ruim da vida. Quando chegou mais perto, andando com dificuldade por sobre as minúsculas flores amarelas caídas, era uma princesa caminhando por uma estrada de ouro.
Sorrimos uma para a outra, e pude notar que tremia de frio. Tirei meu sobretudo e a envolvi num abraço morno.
Palavras teriam sido inúteis; eu a amava incondicionalmente.
1 comentários:
se eu nao te conhecesse jurava que era soh uma narrativa, mas mts coisas me lembram momentos que vc jah me contou ^^
obra prima! a melhor frase eh a ultima por sinal =3
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