Cheguei bem mais cedo à faculdade, o céu ainda estava claro e fazia muito calor. Então acendi um cigarro, algo que detesto fazer quando está calor. Dez minutos depois, entrei no prédio e deixei minha mochila na sala de aula.
Peguei dinheiro e desci até a copiadora, onde troquei sorrisos com o jovem atrás do balcão. Mas tarde, inclusive, tornei a encontrá-lo do lado de fora, fumando. E para acompanhá-lo acendi outro cigarro, sem a menor vontade.
Depois que peguei minhas cópias encontrei duas amigas. Passeei com elas sem destino pelos corredores, sorrindo, falando de rapazes e dos planos para o fim de semana. Até que o encontramos na lanchonete.
Conversei com ele sobre as provas que se aproximavam, mas já era hora de entrar na sala de aula. Não entrei, nem ele. Compramos algumas cervejas e ficamos sentados observando garotas.
No segundo horário assisti à aula embriagada.
Na hora da saída as duas foram embora e fiquei sozinha a esperá-lo, o que me deixou nervosa - aí acendi mais um cigarro, o primeiro do dia por vontade própria. Mas quando ele apareceu, tive de pedir uma bala.
Andamos até o ponto de ônibus, ele falando e eu mal ouvindo. Sentamo-nos no banco, ele falando e eu mal ouvindo. Entramos no ônibus e só conseguimos lugar sentados meia hora depois - ele sempre falando, e eu mal ouvindo.
Até que ele desceu.
Então comecei a ouvir, comecei a ouvir a mim mesma, a meus próprios apelos que aprendi instintivamente a desprezar quando ele está por perto.
Ouvi meus próprios apelos por alguma atenção. Ouvi o motor do ônibus e o toque do meu celular lembrando-me de tomar remédio. Só não ouvi o silêncio.
E no momento seguinte, já deitada em minha cama, ouvi finalmente o silêncio. Já não havia ninguém para me ouvir.
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Há 6 anos
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