E você me pede pra não dizer tudo que penso, porque às vezes nem pareço ser eu mesma. E diz que está brincando quando na verdade não está.
E você quer ver meu sorriso a cada vez que imaginar estar pousando os olhos sobre minha face, por mais que estejamos separados pelo espaço e pelo tempo, e com tantos mares e oceanos a correr nesses seus mesmos olhos.
E você me pede pra esquecer quem já ficou pra trás e os lugares onde me perdi uma única vez.
A luz sem o amanhecer. Os efeitos sem a droga. Os nervos à flor da pele, a mente paralisada para qualquer raciocínio frio que não admita banhar-se na incandescente lava de minha insanidade mental. E aos poucos vai sendo derretido o último vestígio de consciência.
Em um coração vazio, toda a profunda dor dos sentimentos a que não se dá nome - um vazio repleto de sangue, mas de sangue alheio, gotejando acordes lentos, nota por nota, tocando o solo negro no ritmo de minha respiração. Eis que a agonia se faz melodia, e não tenho mais por onde retornar às terras do ingênuo silêncio... agora submersas.
Resposta
terça-feira, 28 de abril de 2009
Postado por Katze Yue às 00:23 1 comentários
Inerte
domingo, 26 de abril de 2009
Eu subiria na mesa escura para afastar as pesadas cortinas escuras, e ali ficaria debruçada, a observar o cair da neve. Passaria a noite em silêncio, esperando eternamente que cada um dos flocos esbranquiçados alcançasse o solo, e desaparecesse em meio àquele mar de algodão, fazendo-o aumentar aos poucos - até, quem sabe, envolver lentamente as janelas, as cortinas e toda a casa, no silêncio da noite, encobrindo tudo, engolindo a si mesmo.
Pois é, fiquei três dias sem postar, e quando volto estou pensando nisso. É que a vida é feita de altos e baixos, e na minha eles sempre se alternaram em questão de horas, então há o que escrever a todo momento; nos últimos três dias, entretanto, a queda livre tem tornado impossível pensar em qualquer coisa por mais de quinze segundos. Agora, enquanto abasteço-me de textos e fotografias e todo tipo de lembrança de outros períodos obscuros dessa mesma vida, percebo que é verdade que só se vive uma vez: as lágrimas que já sei como secar, essas não voltarão.
Desanimador é também o clichê de só conseguir pensar em morte. Talvez porque a vida seja complexa demais - é sempre vida e cansa e engana e desespera. Sim, essa é a última coisa que eu teria gostado de escrever nisto aqui. Mas sou um poço de raiva e mágoa, aos poucos evoluo para o ressentimento e o ódio, e não há nada que me faça voltar a enxergar as coisas de maneira racional.
Porque racional, aliás, nunca soube ser e tampouco fiz questão; a diferença é que antes agia com o coração e cometia atos inocentes. Agora ele está sujo, e até que haja tempo de renovar todo o sangue deste corpo, transcorrer-se-á tempo suficiente para que tudo mude mais uma vez, e outra, e mais outra. No fim, inevitavelmente, tudo terá sido inútil.
Talvez eu subisse novamente na mesa para puxar as cortinas da cor do vinho de volta ao seu lugar. Então desceria, procurando não fazer barulho, caminharia até a porta à esquerda das grandes janelas e giraria a maçaneta no sentido anti-horário, para sentir o vento surpreender-me com um gélido golpe nas faces. E caminharia por sobre a neve amontoada no quintal, no solo outrora negro, deixando um sutil porém intenso rastro de gotículas vermelhas.
Perdendo sangue, ganharia forças para refletir. Não sei exatamente quando deixei de ser feliz, mas esse não é o problema - é que não sei quando voltarei a sê-lo, e sobretudo como.
Mas assim é a vida, refugio-me na morte para não ter que pensar em como sair dela, até o dia em que acordarei viva de novo.
E eu não sei que estou morta, não faço a menor ideia disso e se me contassem eu não acreditaria - mas estou, entende?
Ainda espero que a montanha que agora se formou no quintal sob a goiabeira continue crescendo. Que a neve se una ao branco inatingível do céu, acima das folhas verde escuras já quase sem vida. E que meu corpo possa ser envolvido em seus braços mornos.
Postado por Katze Yue às 02:49 2 comentários
Chorar também não faz mal
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Não quero, não quero, não quero mais que o tempo passe. Logo vai chegar o dia tão aclamado, e eu vou ter que ficar sorrindo com aquela mesma boa vontade das garotas da Rua Augusta. E por dentro só estarei aliviada por não ter uma arma em mãos, o que possivelmente arruinaria meu autocontrole.
Todos os anos é a mesma coisa, em todas as datas por algum motivo "especiais", e todos já sabemos disso, e assim só vai piorando. É como a chegada da noite depois de um dia perfeito, para a maioria das pessoas: doi. Para mim, é como ver o arco-íris desvanecer-se lentamente e saber que o sol permanece mas a chuva não volta mais. Sinto em minhas costas um buraco se abrindo, rasgando a pele, quase a engolir a esperança que tatuei.
Estou preparada para, mais uma vez, pedir desculpas pelo que não fiz, e para fazer promessas falsas - algo que jamais me pareceu nem parecerá plausível, e que no entanto ainda será necessário enquanto eu estiver sob este teto. E também espero que isso se resolva o mais breve possível... aposto que não vou reclamar de pagar aluguel!
Sempre os sentimentos, pra ferrar com as ideias da gente. Quando é paixão, ainda vai, nada que algumas noites solitárias de poesia não ajudem a amenizar - nesses casos o melhor que se tem a fazer é mergulhar na dor. Mas acho que acabei desaprendendo a lidar com o sofrimento por motivos tristes de verdade.
O pior é que vai ser justo num domingo, não vai dar pra escapar. Quero só ver (ou melhor, não quero). Ainda está longe, mas acho que já dá pra começar a escrever uns rascunhos de como foi.
Só pra depois perceber que eu estava errada e mais uma vez nada saiu como eu esperava.
E pra ficar aliviada com isso durante uns três dias, até que o ciclo comece de novo e eu constate que só estive enganada uma vez na vida: a vez em que pensei não estar enganada.
*
Postado por Katze Yue às 20:50 1 comentários
Um instante de simples pureza
Faço um breve parênteses, com a luz do Sol a emprestar um pouco de vida saudável a esse monte de divagações noturnas e lágrimas secas da madrugada.
Não há sensação de maior paz do que a de fazer uma criança dormir. Vê-la chorando, beijar seu rosto molhado e lavá-lo com carinho; tentar conversar com ela, e descobrir que seu único problema é o sono. Deitá-la no colo e passar a mão suavemente por entre seus cabelos até que adormeça.
É, quem acaba conhecendo demais a vida noturna, a depressão, as coisas sombrias e todo essa blablablá, não tem muita noção das alegrias mais simples. E se encanta facilmente.
"Não há ninguém que saiba demais neste mundo..."
Postado por Katze Yue às 15:17 1 comentários
Um adeus...
Não é começo de semana, não é fim de mês, meu time não foi derrotado e não estou na TPM.
Mas tudo isso só torna ainda mais difícil a constatação de que não haverá amanhã.
Só o silêncio da noite e o vento cada vez mais frio, a congelar a eternidade.
Sim, essas palavras são pesadas, porque esta é uma noite pesada, os sons que ouço são pesados, tudo está pesado e meu coração não é diferente.
Sempre sonhei com o dia de voltar-me para trás pela última vez, e agora já não sei para que lado devo olhar.
Aos novos amigos, obrigada pela oportunidade da companhia e da distração, novas ilusões em que acreditar para ser feliz aos fins de semana.
Aos velhos amigos, obrigada por tanta paciência! Que permaneçam apenas os bons momentos na memória.
Aos parentes... que encontrem seus caminhos.
Mãe
acontece muito de duas pessoas não se darem bem, há muito tempo eu acho que um pouco de distância e de saudade poderia resolver nosso problema.
Pai
por que é que quanto mais a gente quer se aproximar de alguém, mais a gente se afasta?
Trabalho, estudo, planos e mais planos. Uma hora tudo vai por água abaixo. Menos a dor, aquela que nos acompanha a vida inteira e só tira um descanso de vez em quando; aquela da qual tanto sonhamos em nos livrar. É, foi tempo perdido.
Aqueles que apresentei, espero que não deixem de se ver. Àqueles que separei, a vida ainda será longa, resolvam seus problemas.
Não tenho nenhuma doença terminal, não fui 'escolhida' para nada, mas a verdade é que preciso me despedir. Porque a estrada da paixão por cada instante e do amor inconsequente levou-me a uma rua sem saída, e todos os portões estão fechados.
LACRIMOSA
Ich verlasse heut' dein Herz
Verlasse deine Nähe
Die Zuflucht deiner Arme
Die Wärme deiner Haut
Wie Kinder waren wir
Spieler - Nacht für Nacht
Dem Spiegel treu ergeben
So tanzten wir bis in den Tag
Ich verlasse heut' dein Herz
Verlasse deine Liebe
Ich verlasse heut' dein Herz
Verlasse deine Liebe
Ich verlasse deine Tränen
Verlasse was ich hab'
Ich anbefehle heut dein Herz
Dem Leben - der Freiheit
und der Liebe
So bin ich ruhig -
Da ich dich liebe!
Im Stillen lass ich ab von dir
Der letzte Kuss - im Geist verweht
Was du denkst bleibst du mir schuldig
Was ich fühle das verdanke ich dir
Ich danke dir für all die Liebe
Ich danke dir in Ewigkeit
Ich verlasse heut' dein Herz
Verlasse deine Liebe
Ich verlasse dein Herz
Dein Leben - deine Kusse
Deine Wärme - deine Nähe -
Deine Zärtlichkeit
Acho que flores brancas combinam bem com um túmulo que quase nunca recebe visitas.
Eu queria estar no lugar de vocês, pra quem ainda não é tarde demais...
;)
Postado por Katze Yue às 00:51 1 comentários
Amores
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Acabo de encontrar um poema que escrevi há dois meses.
What are we supposed to do
Our children spread their wings and leave the nest
But when we get used to loneliness
There they are, shattered, with closed eyes,
just craving for some rest
Not every night is silent and dark
Not every road leads us somewhere
Not every eye is able to stare
at the truth... and keep on being blind
And not every grown-up knows how to be strong
Whenever we're caught up by fragments of tears
In spite of the bright path our eyes know how to see
Our heart seems to foretell we'll end up all alone
And there may be a time
of the flowers' rebirth
When no song will reach our ears
But six feet over her
The pain in his warm sigh
will make sure that feelings remain
Even though never on this Earth
"I hope someday we meet again".
E por mais que eu esteja cansada de ficar pensando em amor e coisas do tipo, acabei percebendo que ler esse texto de novo ajudou a despertar algo que estava adormecido há meses, e vem lentamente ressugindo desde a semana passada.
Sempre há algo que escapa à nossa percepção e impede que tomemos nossas próprias decisões em relação a sentimentos. Infelizmente, agora não tenho muito o que dizer sobre isso, mas sei que a sensação de deitar-se à noite pensando em alguém diferente, com o coração repleto de carinho pelo que se está conhecendo e de paixão pelo desconhecido, nunca é menos intensa. Como também a sensação de magoar alguém nunca se torna menos deprimente.
Também descobri que não são só os meus poemas que têm prazo de validade, depois do qual eu os considero lixo impublicável. A pessoa que me inspirou para o texto acima, hoje em dia ama outra, e de maneira mais realista e bem mais terrível. Só espero que isso volte a mudar muito em breve.
Quanto a mim... muito mais fácil seria a vida se pudesse ser resumida a escrever sobre os problemas dos outros!! Mas felizmente isso jamais acontecerá.
^^
O que eu sei é que, bem no fundo, amo, e muito. Não ter a quem direcionar tudo isso é o que o torna mais perigoso e mais incontestável. E não ter como expressá-lo em palavras menos previsíveis é o que contribui para que, a cada vez que me fecho, tenha mais certeza da impossibilidade de abrir a alma novamente - até que tudo aconteça da maneira mais inesperada.
Belas palavras sempre foram como um vestido branco de seda, a cobrir um jovem cadáver mutilado.
Postado por Katze Yue às 04:20 2 comentários
Stairway
sábado, 18 de abril de 2009
– E tem uma escada que sobe lá pra cima, então acho que deve ser aí mesmo.
– ...
– Nossa, escada que sobe pra cima, que besteira eu estou dizendo! Se sobe, só pode ser pra cima!
– ...
Foi nesse momento que eu comecei a pensar, é verdade que todas as escadas que sobem vão pra cima mesmo? Subir significa sempre chegar a um lugar mais alto? E tudo que é mais alto exige uma ascensão para ser alcançado?
Estávamos diante de uma porta escura, pouco depois da meia noite, e descobrimos que aquele era mesmo o lugar que estávamos procurando. Subimos - e ao final da escada tínhamos descido um andar na escala humana. A luz branca, mais conhecida como luz negra, piscava incessantemente. Nuvens de gelo seco transformavam-se em cortinas de densa fumaça, cápsulas que paravam o tempo, para que restasse apenas o surreal em meio ao qual silhuetas escuras moviam-se no ritmo do darkwave.
Ao fundo, sinalizada por uma luz vermelha, outra escada levava ao segundo andar. Ao atravessar a estreita porta preta, via-se garrafas opacas e cinzeiros cheios a dividir espaço com algumas velas, sobre mesas de madeira antiga ao redor das quais alguns conversavam em voz baixa e outros circulavam em silêncio.
Talvez o antro estivesse localizado no topo de escadarias para que se tivesse a sensação de proximidade com algo superior. Ou talvez o próprio ambiente fosse de fato superior ao que se vê sob a luz do dia. De qualquer forma, é possível que os degraus que levam ao Paraíso terminem no centro da Terra, em um ambiente ainda mais silencioso e escuro do que aquele em que estivemos ontem à noite.
There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
And when she gets there she knows if the stores are all closed
With a word she can get what she came for
Woe...
And she's buying a stairway to heaven
There's a sign on the wall but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In the tree by the brook there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misgiven
Woe...
And it makes me wonder
There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking
Woe...
And it makes me wonder
And it's whispered that soon, if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forest will echode with laughter
If there's a bustle in your hedgerow
Don't be alarmed now
It's just a spring clean for the May Queen
Yes there are two paths you can go by
But in the long run
There's still time to change the road you're on
And it makes me wonder
Your head is humming and it won't go because you don't know
The piper's calling you to join him
Dear lady can't you hear the wind blow and did you know
Your stairway lies on the whispering wind
And as we wind on down the road
Our shadows taller than our souls
There walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold
And if you listen very hard
The tune will come to you at last
When all are one and one is all
To be a rock and not to roll
Woe...
And she's buying a stairway to heaven
***
Postado por Katze Yue às 17:18 1 comentários
Nome
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Ontem cheguei em casa e minha mãe disse: "esta é a música que me inspirou a escolher o seu nome". E ouvi a música sem emoção alguma, não só porque não gostasse de samba, mas porque já desisti de dar importância a essas coisas.
Nomes, nomes, nomes... quem precisa deles? Rótulos, classificações, definições, é a mesma porcaria, a criação da falsa necessidade de entender tudo.
O que você pensa quando vê duas garotas se beijarem? Quando vê uma criança andando descalça na rua se o termômetro marca 17 graus? Quando vê um morador da CDHU ganhar uma casa, um carro e um monte de barras de ouro na Telesena?
O que pensa quando um homem cuja mãe traiu o pai com um judeu decide se vingar exterminando os judeus de todo o mundo? Quando uma jovem fica grávida do nada, e diz que o filho é de Deus?
Para tudo existem nomes, opiniões pré formadas. Não, não estou dizendo que se deva tolerar tudo e não tomar partido em situação alguma, não encontrar nada por que valha a pena lutar - mas se houvesse menos nomes no mundo, talvez fosse tudo mais fácil. Não teríamos que ouvir coisas como "você é gótica?" "você é lésbica?" "você é feiticeira?" "o que você faz da vida?"
Isso faz muito menos diferença em quem sou, do que duas ou três linhas que escrevo. Manter as aparências? Foda-se.
Postado por Katze Yue às 23:58 1 comentários
Sem palavras
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Mas sentia-se mal. De dentro do ônibus observava a chuva diluir o retrato do mundo externo que se via pelas janelas, e pareceu-lhe que as formas se esvaíam lentamente e deixavam só o interior das pessoas à mostra, em todos os detalhes de suas terríveis deformidades.
Ao deixar aquele mar de gente e mochilas e sono e aparelhos de mp3 que é o transporte público de manhã, sentiu a garoa gelada na pele e nem se deu ao trabalho de tirar os óculos. Ao parar diante de um farol fechado para pedestres, reparou no barulho de uma velha porta de ferro sendo aberta atrás de si. Então aproveitou para entrar no bar e comprou um único cigarro - o primeiro de sua vida.
Enquanto atravessava a avenida, finalmente lhe ocorreu um pensamento: Mas já é quarta feira? O último banho que tomei foi no domingo, meu deus.
Seguiu caminhando por mais vinte e um minutos até o escritório onde trabalhava, e lá dentro cada segundo demorava um dia inteiro pra passar e deixar o caminho livre para o próximo minuto e para a próxima hora e o próximo mês e o ano seguinte e assim até que a Nova Era ficasse velha. A cada instante ela também piorava, e ao deixar o prédio ao final do dia, ninguém sabia quem era aquela velha vestida em farrapos manchados de sangue.
Mas finalmente chegou a noite e nos encontramos, na praça dos ipês atrás do terminal de ônibus. Ao vê-la aproximar-se com os cabelos esvoaçando, usando uma correntinha de prata que eu lhe dera e a mesma calça jeans de sempre, me perguntei como é possível que tanta gente veja só o lado ruim da vida. Quando chegou mais perto, andando com dificuldade por sobre as minúsculas flores amarelas caídas, era uma princesa caminhando por uma estrada de ouro.
Sorrimos uma para a outra, e pude notar que tremia de frio. Tirei meu sobretudo e a envolvi num abraço morno.
Palavras teriam sido inúteis; eu a amava incondicionalmente.
Postado por Katze Yue às 22:56 1 comentários
É muita controvérsia
Se a gente começa a vida já no caminho certo, estudando e trabalhando com esforço, andando com pessoas de bem e sem vícios, acaba descontando tudo de uma vez só quando cansa de ficar cansado de ser excluído. Aí a gente descobre o próprio poder de revolta e decide que não tem problema ficar puto de vez em quando. Os bons princípios continuam lá, vigilantes, mas aos poucos a gente vai deixando de lado a paranoia até achar um equilíbrio.
E se a gente já estreia nesse mundo andando por atalhos tortos pra lugares imprevisíveis, morrendo a cada ressaca pra renascer a cada cigarro e dando risada até a barriga doer mais do que as costas quando a gente acorda na calçada de um bairo desconhecido, de uma hora pra outra resolve arrumar um emprego, ser fiel a uma mulher e buscar um deus. Mas não sabe muito bem como esquecer a vadiagem e acaba conservando lá no fundo alguns traços da personalidade de inútil.
Mas, e depois? Depois que se atinge esse equilíbrio, o que acontece? Com o tempo, um dos dois lados vai voltando a falar mais alto, não dá pra ficar nesse negócio de final feliz. E o que a gente faz, segue os impulsos ou as origens?
A gente descobre que agora tem que encontrar um equilíbrio entre o lado mais forte e o próprio equilíbrio - e nem é tão difícil assim, mas nessa altura já nem dá pra lembrar como era ter paz e seguir uma coisa só e ser uma pessoa só. Por que diabos a vida tinha que ser em ciclos. Tudo bem, se fosse uma linha reta ia ser insuportável, mas à vezes a Terra gira tanto que dá uma tontura.
No fim, o tempo é curto demais pra desperdiçar aqueles momentos únicos sempre em estado de alerta, mas isso vira uma constante e aí já era. A única coisa estável que a gente consegue é a instabilidade, a eterna incerteza do errado.
E quem não concorda com nada disso, eu acho que deveria começar a viver.
Postado por Katze Yue às 00:56 1 comentários
Gerações
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Quando as mocinhas jovens vão até as mocinhas idosas e lhes pedem emprestado o isqueiro para acenderem um cigarro, as mocinhas idosas olham bem no fundo dos olhos das mocinhas jovens e emprestam o isqueiro sem dizer nadinha.
As mocinhas idosas queriam poder dizer às mocinhas jovens que não fumassem, que o cigarro faz mal e todo mundo sabe disso, que no tempo delas fumar era muito bonito mas hoje em dia se tem muito mais informação. Mas sabem que não terão moral para convencer as mocinhas jovens disso, e olhando bem no fundo dos olhos delas, simplesmente emprestam o isquero caladas.
E as mocinhas jovens queriam poder dizer às mocinhas idosas que é bom viver algumas aventuras na vida sem ter que confessar tudo a um padre no fim de semana, que não é preciso casar pra ser feliz e que não é doença nenhuma quando um homem namora outro. Mas sabem que não terão moral para convencer as mocinhas idosas disso, e olhando bem no fundo dos olhos delas, simplesmente pegam o isqueiro e acendem um cigarro caladas.
Postado por Katze Yue às 16:40 1 comentários
Águas turvas
É, acabou a terça feira. Trabalhar, ler/escrever em casa, ir pro curso. Essa semana ainda temos o adicional da bagunça de reforma pela casa, e de todas as minhas coisas importantes terem sido transferidas para a lavanderia, pra um cantinho impossível de alcançar.
Não me entendam mal, eu sempre adorei bagunça de reforma. O problema é que dessa vez ela está muito murcha!! Estou até podendo dormir na minha própria cama, olha só.
Eu adorava quando era menor e as reformas me obrigavam a dormir só no colchão, sobre o chão da lavanderia. E quando tiveram que levar todas as minhas coisas da escola e minhas papeladas lá pra cima, e eu passava o dia inteiro lendo e escrevendo... a imaginação ia tão longe!!
Caramba, que estranho, só estou reparando agora que reformas na casa sempre marcaram 'reformas' importantes também na minha vida. Lembro-me de duas em especial: uma de quando eu tinha uns 12 anos, e os sofás amontoados perto do computador acabaram de alguma forma se fundindo com a história do livro que eu estava lendo, Sozinha no mundo. Depois dessa reforma não ganhei só um quarto praticamente 0km, mas também aprendi a gostar dessa mania de independência que a bagunça e a história me inspiraram, tanto que só andava de mochila pra cima e pra baixo dentro de casa - e quando me perguntavam se eu ia fugir, a única resposta que eu queria mesmo dar era SIM!!!
Já aos 17, meu quarto foi reformado novamente, e de súbito a vida mudou. Consegui meu primeiro estágio, comecei a ter uma vida espiritual de verdade, e ao fim do dia, quando deitava no colchão atrás do freezer, eu nem sabia por onde começar a ficar feliz.
Hoje estou há um mês nesse emprego que adoro, finalmente dando continuidade ao projeto do meu primeiro livro, planejando voltar a estudar em breve e sair de casa. Estou super solteira e disponível há exatamente um ano e ainda não me acostumei muito bem. Rammstein e Metallica são minha principal trilha sonora.
Mas hoje, quando bate aquele sentimento de peso no coração, já não sei muito bem o que devo pensar. As coisas são de verdade, a brincadeira de fugir de casa, a certeza de não conseguir confiar plenamente em ninguém, o compromisso com o emprego e com a fé são de verdade. Ainda bem que tive pelo menos esses treinos - e com meus próprios ossos fraturados construí um barco para navegar por sobre os problemas.
Não sei se na próxima reforma vou sentir falta de terminar TODOS os meus textos com filosofias vagas e sem conclusão alguma - aliás, não pretendo morar nesta casa até lá, mas isso eu já cansei de falar e é uma outra história. Mas sei que, toda vez que o barco está quase virando pra um lado, de repente cai pro outro. Tem sido assim entre a alegria e a tristeza através dos dias, entre o bem e o mal através dos anos.
Eu juro que não sei por que fui nascer sob o signo de Balança.
Aposto que quando eu finalmente encontrar um equilíbrio e estiver navegando por águas tranquilas, vou acabar ficando presa em uma praia e quase morrer de sede, então vou tomar coragem de sair caminhando e por pouco não morrerei afogada, até chegar a uma terra completamente desconhecida. Então, nunca mais encontrarei o caminho de volta.
Ora, que assim seja.
Postado por Katze Yue às 00:09 1 comentários
Calafrios
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O ar gelado da noite faz-me lembrar nitidamente de quando eu era algo que nunca existiu. Todos os dias de minha vida, sinto que guardo no coração as memórias dessa época, mas a cada vez que procuro compreendê-las, descubro em minha mente uma caixa de Pandora já vazia - tarde demais.
(Ainda bem que tatuei a esperança nas costas antes que ela fugisse)
Recordo-me de uma clareira em meio a árvores silenciosas e folhas que brilhavam negras sob as estrelas; eram olhos que vigiavam minha inocência. E o som tão familiar dos galhos caídos ao chão estalando sob meus pés que se moviam lentamente, lentamente, na escuridão.
Minhas pesadas vestes proporcionavam a sensação de que o coração batia forte por causa do cansaço de carregá-las, e não pela consciência pesada ou pelo pavor profundo. Mal conseguia levantar os joelhos o suficiente para dar o próximo passo, sem ter que arrastar os pés sobre as folhas secas e perturbar a atmosfera sepulcral que se abatia sobre mim, sobre nós. Mas somente eu permanecia acordada - talvez se estivesse de olhos fechados pudesse enxergar mais claramente.
E nesse instante se encerram as cortinas de minha memória. Ainda se fosse uma virgem, talvez o véu se revelasse transparente diante de meus olhos. No entanto, ouço apenas um grito e nada sei do que aconteceu daí em diante.
Seria este o momento de dizer "e eis que toca o despertador"? Bem, talvez, se eu estivesse tentando escrever ficção.
E essa cena parece música, mas eu mesma só me dei conta disso alguns anos depois da primeira vez que me lembrei de tudo isso. À época não conhecia Nirvana.
In the pines, in the pines,
where the sun don't ever shine,
I would shiver the whole night through
Agora, nesta 'quase madrugada' de outono, recupero os remotos instintos de fazer o mínimo de barulho possível enquanto caminho. Não preciso de árvores por perto para ouvir o sussurro das folhas pequeninas e abundantes nos galhos altos, quando o vento as acaricia. Mas seus olhos se fecharam porque já não há inocência alguma para ser vigiada.
Seria mais fácil voar para as colinas distantes de campos verdes, flores e cachoeiras do Elton John. Mas em minha terra de pinheiros o Sol não há de nascer. Aos poucos o sono me leva, em meio a calafrios. I will shiver the whole night through.
Postado por Katze Yue às 23:09 2 comentários
Luz e sombra
Há algumas horas, saindo do trabalho, comecei a refletir sobre a vida, como sempre faço. O problema é quando essas reflexões não trazem a paz de coração ou a vontade de seguir adiante que um dia já me proporcionaram. Estou segurando somente uma semente, que eu não sei em que se transformaria caso brotasse, que perfume teriam suas flores ou qual seria a cor de seus frutos. Porém, não consigo encontrar um solo fértil onde depositá-la. E para regar os muitos terrenos desconhecidos por que tenho passeado, só tenho algumas lágrimas de cansaço e de dores antigas.
É muito triste, quando a gente tem a fé mais profunda na espiritualidade e nas causas ocultas pra todas as coisas, e parece cansada diante da vida, mesmo com tantos caminhos abertos à frente e ao redor. Eu sei que são muitos os recursos que tenho pra resolver isso, mas recentemente vários deles não têm dado certo, e o instinto de fechar as portas pro mal não entrar de novo é automático. E dá medo pensar que o que eu tenho de mente aberta, tenho de coração fechado.
E se tudo isso lhe parece futilidade pós-adolescente, é porque você já está na faixa dos 40 (o que pode ser muito bom) e esqueceu como é não saber nadinha do futuro (o que certamente é péssimo). Cara, infelizmente, pra pessoas assim eu só tenho uma coisa a dizer... FODA-SE >.<
Sabe, só o que não quero é me tornar uma pessoa comum, com uma vida que avança lentamente e em progressão linear. Há seis meses tatuei nas costas a frase ...und die Hoffnung tief im Herz, exatamente pra momentos como esse, e aos poucos recupero um lampejo de esperança e tenho certeza de que tudo vai dar certo. Só não sei ainda como, quando, onde, e muito menos com quem. No entanto, se a gente pode afirmar que "Sem luz não existe sombra", também está certo dizer que toda luz cria sombra. E sentar-se à sombra pra pensar um pouco na vida é atitude digna de uma pessoa iluminada.
Eu acho.
Postado por Katze Yue às 16:24 0 comentários
(parênteses)
Ainda a Marisa Monte
Apesar de tudo existe
uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura...
Postado por Katze Yue às 00:02 0 comentários
Páscoa
domingo, 12 de abril de 2009
Ah, finalmente o domingo de Páscoa. Tive sim uma feliz páscoa, estava sem comer chocolate desde a quarta-feira de cinzas, viciada do jeito que sempre fui, acredita!
Mas daqui dá pra ouvir tocando a Marisa Monte lá em cima, que música linda =) é, MPB, mas com uma letra dessas não tem como!!!
A sala, o quarto, a casa está vazia,
a cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha,
a dor é minha dor...
Fora isso, continuo normal, alimentando minhas ilusões e planejando coisas simples com expectativa em demasia.
Agora preciso muito ir dormir.
Obrigada pela atenção, caríssimos =) fiquem com Deus, com todos os deuses em que acreditarem...
Se a sua espada é de ouro,
sua coroa é de rei
***
Postado por Katze Yue às 23:10 1 comentários
Saudações
sábado, 11 de abril de 2009
Como é difícil dar nome às coisas, né. Eu doida pra escrever logo as minhas besteiras e tenho que ficar perdendo tempo pensando em um nome pro blog, em uma URL que não aceita cê cedilha! Mundo moderno não é só alegria.
Aliás, eu nem sei desde quando penso assim. Pra muitas coisas sou meio clássica, sabe; acredito em mandar chocolates e rosas vermelhas, em declarações de amor de joelhos e em público, em carregar a mulher no colo. Só não sei mais se acredito em fidelidade, "até que a morte os separe", essas coisas. A gente não precisa nem completar 20 anos pra conhecer um pouquinho da vida, só precisa de dois fatores:
1- Dar um jeito de tirar lições de todas as merdas que a gente faz
2- fazer merda, pra ter de onde tirar lições.
Ah, mas talvez essas palavras meio sem nexo (meio? ora, não seja modesta) não sejam besteiras não. Sonhar nunca foi besteira. E eu fico escrevendo aqui enquanto estou acordada, já que refletir sobre os sonhos que a gente tem na vida é super cansativo. NÃO, isso não quer dizer que eu tenha preguiça de fazer planos! Mas sim que eles têm me tomado bastante tempo (felizmente), nessa fase da vida em que estou, e é bom distrair a cabeça. Qualquer hora dessas eu conto mais sobre os meus projetos secretos.
Quase esqueci de falar: também acredito em mandar chocolates e rosas vermelhas aos rapazes, em declarações públicas (o que não quer dizer cafonas e constrangedoras) aos rapazes, e só não falo em carregá-los no colo porque os meus 50kg nunca seriam capazes disso... sou cavalheira assumida, e quem não gostar, é melhor não ter esperança xD
Tá, já não gostei do estilo muitostentampoucosconseguem dessa última frase. Não mesmo. Odeio patricinhas, odeio cor de rosa (agora é sem hífen, né?) , não suporto bichinhos de pelúcia e coraçõezinhos e nem a palavra EXAGERO. O que é exagero? Vida sem exagero não é vida, na verdade não é nem existência, é só um grande nada - uma moldura de covardia, preguiça e conformismo dentro da qual não se vê quadro algum, mas só a parede branca encardida do outro lado.
E vontade de terminar este post eu não tenho mesmo, mas parece que já tá na hora, então vou deixar aqui o link de uma música bem linda, que dificilmente alguém não vá reconhecer. A letra tá aí também, soltem a voz. E até a próxima, ou não.
Turn me loose from your hands
Let me fly to distant lands
Over green fields, trees and mountains
Flowers and forest fountains
Home along the lanes of the skyway
For this dark and lonely room
Projects a shadow cast in gloom
And my eyes are mirrors
Of the world outside
Thinking of the way
That the wind can turn the tide
And these shadows turn
From purple into gray
For just a Skyline Pigeon
Dreaming of the open
Waiting for the day
He can spread his wings
And fly away again
Fly away skyline pigeon fly
Towards the dreams
You've left so very far behind
Let me wake up in the morning
To the smell of new mown hay
To laugh and cry, to live and die
In the brightness of my day
I want to hear the pealing bells
Of distant churches sing
But most of all please free me
From this aching metal ring
And open out this cage towards the sun
For just a Skyline Pigeon
Dreaming of the open
Waiting for the day
He can spread his wings
And fly away again
Fly away skyline pigeon fly
Towards the dreams
You've left so very far behind
Já sei qual vai ser o nome disto aqui: Incerteza do Errado. Nada a ver, né!
Postado por Katze Yue às 16:18 2 comentários